
Marta Morais da Costa
Antigamente no Paraíso, os animais andavam, caçavam, comiam e adormeciam. Eles abriam a boca, mas nada se ouvia. Eram todos mudos. Embora o Paraíso estivesse povoado por seres vivos, mas não se ouvia nenhuma voz.
O silêncio habitava o Paraíso.
Um dia, um beija-flor enamorado tentava mostrar seu amor – batia as asas, girava seu corpo, dançava, fazia caretas e trazia um buquê de insetos para oferecer à sua bem-amada.
Na angústia de expressar seu amor, ele perdeu a respiração, engasgou-se e começou a tossir. Entre os ataques de tosse, ele percebe um som estranho que sai de sua garganta e descobre que o ar produziu um barulho agradável.
Então ele tenta diferentes movimentos de bico e outros ritmos feitos pelos golpes de ar. Pouco a pouco nasce um canto em sua garganta, que corta o ar e acaba com o silêncio.
Os outros animais ficam espantados. O que era aquilo?, se perguntam, entre assustados e curiosos. Então, eles também principiam a fazer barulhos com a garganta. Surgem urros, guinchos, zurros, relinchos, latidos, bramidos e cacarejos. Mas somente os animais enamorados conseguiam produzir sons sedutores e agradáveis.
O Paraíso ficou, assim, cheio de música e conversas.
Mas o amor também faz suas guerras. E rapidamente gritos, rugires e sons agressivos vêm criar a assonância de uma música de guerra. A mesma voz que fala de amor, fala de sua morte. E até mesmo expressa ódio.
É por causa dessas contradições que os sons do amor se escondem e não se mostram senão em momentos especiais. Muito raramente.
Esta é uma história que se conta para explicar a origem da voz dos animais.
Além do mais, é por isso que o amor e o Paraíso, ele também, contêm espaços de Inferno.