Árvores

Marta Morais da Costa

Foto por Darius Krause em Pexels.com

Eram árvores vizinhas.

Uma de largas folhas. Outra de delicada folhagem.

Cada uma a produzir flores em diferentes épocas do ano. Uma lançava grandes cachos amarelados na primavera. Outra se enfeitava de pequenas flores roxas no verão.

Uma erguia-se com tronco despido e coroa exuberante. Outra se espalhava em finos galhos, multiplicados e indomáveis ao longo de todo o tronco.

Encontravam-se as duas no alto quando galhos e folhas ficavam tão próximos que as árvores pareciam conversar com intimidade.

Mas era quando o vento punha em movimento a massa verde que elas melhor se definiam. Bastava a brisa chegar que o diálogo manso começava. Eram delicadas palavras de amizade, eram juras de fidelidade, eram sussurros de esperança.

Quando se anunciava a tempestade, e o vento agredia as ramagens, a fúria se instalava. Só se ouviam queixumes, gritos e palavrões. O choque dos galhos era tremendo. Vez ou outra vinham ao chão as folhas mais sensíveis e as pequenas ramas enfraquecidas. O chão cobria-se com os restos de uma batalha floral.

Era, porém, nos dias claros da primavera, em que o vento – criança imprevisível – ora golpeava, ora acariciava, que as duas árvores vizinhas mais se assemelhavam aos humanos. Na lufada mais violenta, se debatiam, misturavam-se com força. Ora se impunham, ora eram feridas.

No entanto, quando o vento amainava, tocavam-se delicadamente, trocavam palavras gentis, e uma delas espargia sobre a outra pétalas douradas, que selavam sua intimidade, como beijos e carícias para sempre.

Até o próximo confronto, eram duas árvores destinadas a viverem próximas e unidas até a morte.