AMOR

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                                        Marta Morais da Costa
 
Julgava o amor
voraz sentimento tirânico,
avalanche, tsunami,
catástrofe bem-vinda,
êxtase devastador,
raio beta radioativo.
 
Tropecei e despenhei-me na própria ilusão.
 
Amor chegou de mansinho,
pouco a pouco, sadio
e melancólico,
inseguro de si  e míope.
Não lamentou suas deficiências,
instalou-se em mim
como velho inquilino,
cobrou seus direitos, não pagou suas dívidas,
comeu, bebeu, dormiu
e esqueceu-se de partir.
 
Até hoje mora comigo,
acomodado e sorumbático.
Por causa dele sobrevivo
a sonhar loucuras impossíveis,
Sancho Pança, algemado
a normas e crenças.
Sem batalhas, sem medalhas,
feliz em minha limitada mediania.