Marta Morais da Costa

Acreditava no amor, aquele que é doação, sinceridade, respeito e resiliência.
Mas continuava solteiro. De todas as namoradas, nenhuma cumpriu a lista de qualidades exigidas.
Acreditava na amizade, nas trocas, na companhia para todas as horas.
Mas vivia encerrado em casa, solitário. Amigos com problemas e sem humor eram deixados de lado.
Acreditava na ciência. Toda a ciência: a que cura, a que moderniza, a que inventa. Até aquela que planeja e constrói coisas feias.
Mas caiu nos braços da superstição e da magia. A ciência havia trazido a guerra e a ganância.
Acreditava na educação como impulso para vidas marcantes.
Mas doou todos os livros, rasgou diplomas e vendeu computador e celular. A educação desejada só vai chegar quando ele não mais estiver sobre a terra.
Acreditava na felicidade plena em comunhão com a natureza.
Mas morava em um apartamento de 30 m² de frente para outro apartamento de frente para outras janelas fechadas de frente para paredes sem reboco.
Acreditava em todas as igualdades e em todos os méritos.
Mas descobriu o preconceito, Medusa indestrutível.
Acreditava na paz de espírito com a chegada da velhice.
Está morrendo aos poucos entre gemidos e dores: gasto, roído e triturado.
Não acreditava no poder da mentira e da fraude.
Viveu e viu.