Ética

Marta Morais da Costa

Foto por Karolina Grabowska em Pexels.com

Acreditava no amor, aquele que é doação, sinceridade, respeito e resiliência.

Mas continuava solteiro. De todas as namoradas, nenhuma cumpriu a lista de qualidades exigidas.

Acreditava na amizade, nas trocas, na companhia para todas as horas.

Mas vivia encerrado em casa, solitário. Amigos com problemas e sem humor eram deixados de lado.

Acreditava na ciência. Toda a ciência: a que cura, a que moderniza, a que inventa. Até aquela que planeja e constrói coisas feias.

Mas caiu nos braços da superstição e da magia. A ciência havia trazido a guerra e a ganância.

Acreditava na educação como impulso para vidas marcantes.

Mas doou todos os livros, rasgou diplomas e vendeu computador e celular. A educação desejada só vai chegar quando ele não mais estiver sobre a terra.

Acreditava na felicidade plena em comunhão com a natureza.

Mas morava em um apartamento de 30 m² de frente para outro apartamento de frente para outras janelas fechadas de frente para paredes sem reboco.

Acreditava em todas as igualdades e em todos os méritos.

Mas descobriu o preconceito, Medusa indestrutível.

Acreditava na paz de espírito com a chegada da velhice.

Está morrendo aos poucos entre gemidos e dores: gasto, roído e triturado.

Não acreditava no poder da mentira e da fraude.

Viveu e viu.

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