Onde antes estava o verde, agora predomina a terra seca, quase areia.

Árvores centenárias foram obrigadas a prestar vassalagem às motosserras.
A mata nativa – troncos finos e ramas debruçadas sobre o chão – jaz inerte.
O silêncio sem pássaros e as trilhas sem pisadas nem rastros.
As folhas e galhos perderam seu farfalhar, agora monturos secos e esquálidos.
Cortou-se a comunicação entre as árvores, abriu-se o horizonte em luz e vazio.
Onde antes não havia caminhos, agora são vias sem margens, travadas pelo entulho vegetal.
Por tantos anos, o arvoredo foi repouso dos olhos, umidade contra a secura do asfalto, paisagem de fotos e resguardo de degradação.
Hoje, de surpresa, a descoberta de que em alguns poucos dias, a natureza elaborada em séculos amanheceu destroçada.
O ser humano, rei das espécies, mais uma vez mostrou-se vilão, depredador, criminoso.
Contra ele, a dor da perda, a dor da crueldade alheia, a dor de descobrir-se também humano na desamparada impotência.
Lágrimas corroem a manhã ensolarada, desverdecida.
Marta Morais da Costa