Inversos

Da abundância fluem carências;

os fios das teias se enovelam;

a gota espessa, que balança

na ponta da folha, deságua.

No cume da montanha

vige o desejo dos vales;

das correntes turbulentas,

o sonho do remanso voa.

Nas areias do deserto,

o verde viril pontifica;

de cada boca sedenta,

a fome mais irradia.

Em cada beijo volátil,

o sexo mais se atrofia;

assim a vida se vira,

em carências, opostos,

nervuras.

Sob dossel fantasmal,

a matéria em desatino

faz brotar dos lençóis

sangue, suor e gemidos.

Há no tempo que passa

pelas janelas do corpo

um corroer magistral,

embebido de alegrias,

latentes e desdobráveis,

a mostrar, entredentes,

a beleza inconstante,

que dentre as cinzas

renasce

Marta Morais da Costa

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