Um entre 4

Marta Morais da Costa

Foto por Xi Xi em Pexels.com
Ler jornais está se tornando um exercício flagelante, torturador. Diariamente uma dose cavalar de surpresas más, de informações dolorosas, de fechamento de horizontes de esperança se abate sobre mim durante o ato de ler telas e telas, com imagens e publicidade e textos escritos.
Hoje doeu ler “Geração nem-nem: quantos jovens não estudam nem trabalham no Brasil? E nos países ricos?”, publicado na edição de 10 de setembro de O Estado de São Paulo. São 24% dos jovens entre 25 e 34 anos que se dedicam a construir um futuro de sombras e apagões. Por diferentes razões: necessidade de emprego, preguiça, rejeição à escola e aos estudos. Entre as mulheres, gravidez, tarefas domésticas e cuidar de outros, sem eliminar aas três justificativas anteriores.
Está no jornal, com todas as letras:
“Os jovens entre 25 e 34 anos que não trabalham nem estudam — os chamados “nem-nem” — são quase 1 em cada 4 (24%) no País, conforme o estudo Education at a Glance 2024, divulgado nesta terça-feira, 10, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo de países desenvolvidos economicamente do qual o Brasil não faz parte. Esse número caiu 5,4 pontos percentuais em sete anos (era de 29,4% em 2016), mas ainda é considerado alto pelos especialistas.
O número da entidade internacional é pior do que o divulgado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) da Educação, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano passado e correspondente a 2022, de 20% (9,6 milhões de jovens). A PNAD avalia uma faixa etária diferente: dos 15 aos 29 anos.”
No amplo espectro da idade dos 15 aos 34 anos, em que se alicerçam valores, competências, habilidades, crenças e vida familiar independente, quando os estudos ainda encontram uma mente aberta e idealista, os brasileiros abrem mão de estudos profissionalizantes ou de aprofundamento para cuidar da vida prática e da prática que provavelmente se tornará repetitiva e defasada em pouco tempo.
Na sociedade cambiante e veloz, a ausência de vontade e resiliência para investir na autoeducação e em projetos de vida que passem além do sucesso Tik Tok/ Instagram condena os novos analfabetos funcionais a uma vida boçal, medíocre e massificada.
Talvez o que seja mais excruciante na reportagem além dos números, é constatar que a diminuição proporcional se dá em um ritmo tão lento que o Brasil se (des)qualifica para ocupar sempre posições em final de lista, em um inalcançável futuro de vida digna. São milhões de pessoas a viver um estado de alienação, de vida à margem das conquistas civilizatórias.
Enquanto ainda lutamos contra o analfabetismo funcional, países mais avançados, cultural e economicamente, discutem como tirar proveito da Inteligência Artificial e como criar um mundo em que possa haver um pouco mais de segurança e de crença no futuro.
Novas adversidades irão surgir, isso nem se discute. Mas pessoas com melhor conhecimento e preparação sempre estarão em vantagem sobre os que nem estudam, nem trabalham, nem usam o cérebro em funções propriamente humanas.
O mais deprimente nessa história toda? Saber que nem todos nós poderemos esperar pelas décadas necessárias para que essa porcentagem mortífera diminua.

Um comentário sobre “Um entre 4

  1. Avatar de helomam helomam

    O sistema educacional precisa acompanhar as mudanças da sociedade e oferecer ferramentas, para que os jovens desenvolvam as habilidades necessárias para o século XXI, como o pensamento crítico, a criatividade e a colaboração como cidadão. Infelizmente tentam corrigir lá na frente, quando o “estrago” é maior, e, consequentemente, as cobranças mais severas.

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