
“Eu canto porque o instante existe”
na voz de Cecília, a que não mais vê,
mas continua a cantar.
Canto porque temo,
temo porque vejo
a derrocada ao redor.
Canto porque sucumbem
o decoro vetusto,
a ansiada harmonia,
o áureo respeito.
Canto porque inacessível
está o toque, o abraço,
a troca afetuosa
de gestos que acolhem.
Canto porque, no silêncio
da solidão, a palavra
explode incontrolável.
Canto porque a noite
ainda não se fez fatal.
