Marta Morais da Costa
Fotos: Fábio Morais da Costa
No lago em que uma garça branca habitava, os peixes se tornavam cada dia mais escassos. Talvez porque, vindas nas migrações anuais, houvesse cada vez maior número de garças que comiam cada vez mais peixes. Talvez porque os peixes se reproduziam cada vez menos. Talvez porque os homens pescassem cada vez mais os peixes que se reproduziam cada vez menos. Fosse por qualquer um desses acontecimentos ou por todos eles juntos, a verdade é que a garça ficava cada dia mais faminta.
Uma tarde a garça viu uma pequena cobra ao lado de uma pedra no fundo do lago. Imediatamente mergulhou o longo bico, sentiu a cobra presa e começou a puxá-la lentamente, estranhando o peso excessivo.

Disfarçada em formato de pedra, havia uma cobra maior, mais esperta, mais experiente, cheia de artimanhas. Quando viu aproximar-se o bico da garça, agarrou-se à cauda da cobrinha e deixou-se puxar, engatada, para fora da água.
Sabia que poderia salvar-se mais facilmente deslizando pela superfície do lago.
A garça fazia um grande esforço, mas de repente o peso diminuiu. Ela descobriu só então que havia puxado uma presa maior e mais suculenta. Mas já era tarde, porque a falsa pedra descolou-se da cobrinha, deslizou velozmente para longe e desapareceu nas plantas da margem.

A garça, então, teve de contentar-se com o petisco menor. Que, nem por isso, foi menos delicioso. A diferença é que a fome voltaria mais cedo.
Moral: Experiência, esperteza e artimanhas mantêm vivos os graúdos. Por isso, todo dia é dia de Golias.
