Interrupção

Marta Morais da Costa
 
Na suspensão do tempo viver
 
as asas do pássaro travadas em voo
a folha a caminho do chão
a frase musical no oco da boca do cantor
o olhar detido a caminho do objeto
a caneta em meia letra
o pé entre o vácuo e o asfalto
a colher ao tocar a superfície dos lábios
a carícia petrificada na ponta dos dedos
a mosca imóvel no ar
o grão de poeira suspenso ao sol
o perfume entre a flor e as narinas
o estertor da máquina em energia cortada
o pingo da chuva congelado no limite da vidraça
os lábios entreabertos à espera do beijo
- hiato do amor –
a nota truncada no choro agudo do bebê
o dedo em riste viajando para o mapa
o pensamento incompleto no branco do esquecimento
este poema sem
Foto por Mike em Pexels.com