Quarentena 1

Marta Morais da Costa

Hoje cantei velhas canções.

Entoei palavras em desuso

verbos no pretérito

adjetivos de pura utopia:

galhardo, sinuoso, merencória.

Pastorinhas, perfídia, amor pra chuchu.

Visitei em notas e acordes

sentimentos plácidos,

a paixão perenal,

o ósculo sonhado,

a valsa dolente entre seus braços,

a queda que ensina a levantar,

beijinhos e peixinhos infinitos,

a vida que valia a pena.

A proximidade dos astros,

em que pisávamos distraídos,

em um carrossel de emoções,

resolvidas no riso aberto

e aos pés do altar.

A música melodiosa

ainda soa aos ouvidos

enquanto no ar, lá fora,

reina o silêncio do medo

e a ameaça do fim.

10/abril/2020

Recomeçando

Era uma vez um desejo de não perder o tempo presente.

Era outra vez um desejo de saber lidar com recursos materiais de escrita.

Era sempre uma vontade de não desistir.

Desta vez recomeço em outro blog outra tentativa.

Cansada do anterior? Que nada!

Ele me traiu e saiu com outros pelo espaço digital.

Deixou-me sem lugar-site, deixou-me sem nem dar adeus.

Sumiu como somem seres e coisas em esconderijos e frinchas.

Aprendi a substituir. Sem esquecer as caras e fieis companhias de textos anteriores bissextos.

Inicio novamente. Clamo pela ajuda de Hermes, o deus de pés alados.

Desta vez quem sabe eu não (me ) perca nas esferas.

PS: esta linguagem empolada aí de cima é pra dizer aos amigos que retorno a esta ferramenta de comunicação, com outro design e título.

Mas continuo deleiturando.

Poty Lazarotto em Sagarana, de Guimarães Rosa (prêmio na Bienal Internacional de São Paulo de 1969). Feliz simbiose entre texto e ilustração.